
A Cooperativa de Usuários Freixo do Meio é formada pela comunidade que participa na construção deste projecto agroecológico iniciado há várias gerações (colaboradores, consumidores, habitantes, agricultores, vizinhos e outros utilizadores). Neste atual modelo de colaboração e participação colectiva procuramos implementar ferramentas de sociocracia, em que todos os que integram a organização têm voz. Na biblioteca da Escola do Freixo do Meio fazemos reuniões de círculo quinzenais, um espaço de diálogo em que as 35 pessoas da equipa, a maioria proveniente da freguesia dos Foros de Vale de Figueira, são incluídas e ouvidas nas tomadas de decisão dos diferentes usos sectoriais deste Bem Comum. Também cuidamos dos nossos recursos naturais de forma integrada e planificada (permacultura) e, mais recentemente, trabalhamos para produzir ainda mais alimentos e estimular a abundância alimentar à medida da capacidade produtiva dos ecossistemas, recriando agroflorestas estratificadas e de sucessão nos nossos campos de cultivo. No modelo agroecológico de produção, as funções de cada elemento da biodiversidade são absolutamente respeitadas, garantindo a ciclicidade, a estabilidade energética e os mecanismos de auto-regulação dos sistemas. Defendemos uma agricultura sustentável, sem mobilização dos solos, respeitadora do seu microbioma, auto-suficiente, sem inputs externos. Enriquecemos as nossas terras com a incorporação de biomassa e matéria orgânica num circuito de fertilidade agrícola fechado. Tentamos que todas as peças do mosaico agrícola se conjuguem em equilíbrio e proporção e contribuam para a nutrição das plantas, o que inclui a funcionalidade dos animais nos ecossistemas, a compostagem da fração orgânica das nossas unidades, a adubação verde dos terrenos com integração de leguminosas e fixação de azoto e a incorporação de aparas ou estilha resultante de desramas ou podas de árvores, acções de desbaste florestal ou mondas agrícolas. Para além de todas as medidas de sustentabilidade já descritas, preservamos raças autóctones (Porco Alentejano, ovinos Merino Preto, Galinha Preta Lusitânica, bovinos da raça Barrosã).
O modelo de produção do Freixo do Meio baseia-se, desde 1990, na regeneração dos solos e no restauro ecológico em sistema agroflorestal de produção de alimentos em sucessão e estratificação (árvores, arbustos e herbáceas) à semelhança do que acontece num bosque natural comestível. Em Janeiro de 2018 transitámos de um projecto particular liderado pelo agricultor Alfredo Cunhal Sendim para fundar uma cooperativa integral de consumo protegida pela Lei Portuguesa de Economia Social: a Cooperativa de Usuários Freixo do Meio, Crl. Desta multifuncionalidade resulta um conjunto de benefícios para a comunidade local e rural em redor (emprego, segurança alimentar, contemplação e lazer, convivência social, aprendizagem e formação). Todos os produtos HFM são, desde 2011, certificados em agricultura biológica.
Este projecto agroecológico nasceu há trinta anos. Cresce e fortalece-se todos os dias. Temos uma loja online (www.herdadedofreixodomeio.pt/loja-online), duas lojas físicas de produtor (na Herdade e no Mercado da Ribeira, Lisboa), vários pontos de entrega em parceria com estabelecimentos de comércio local: em Montemor-o-Novo, Évora, Azeitão, Almada e Grande Lisboa. Temos a viabilização económica de 120 famílias, através do projecto CSA Freixo do Meio que já descrevemos anteriormente. Recebemos regularmente escolas da região, estudantes de todas as idades e proveniências, escolas profissionais e universidades que reconhecem a diferenciação do nosso projecto, as nossas experiências ao nível de agricultura e produção animal biológica e que nos vêem como referência a nível nacional (e até internacional). Em setembro de 2019, a Herdade do Freixo do Meio é referenciada no estudo “Climate change adaptation in the agriculture sector in Europe”, publicado pela Agência Europeia de Ambiente, como exemplo das medidas de resiliência que podem ser implementadas no contexto de adaptação às alterações climáticas.
Como prevenção dos cenários climáticos futuros reforçamos as práticas de Agroecologia que seguimos diariamente e colaboramos em vários projectos científicos e de conservação da biodiversidade, como o LIFE Montado-Adapt, o Ecomontado XXI e o TRansition paths to sUstainable legume based systems in Europe.
Procuramos valorizar e proteger o montado, assim como as nossas hortas e agroflorestas dos efeitos da seca e da desertificação dos solos, dos efeitos do aumento das temperaturas máximas no sul da Europa, da redução de pluviosidade tentando minimizar o consequente impacto nas colheitas e na nossa comunidade de alimento.
Exemplos das medidas que temos vindo a implementar no Freixo do Meio:
- diversificação das culturas e plantação de árvores perenes, frutíferas e leguminosas em sistemas agroflorestais dinâmicos de sucessão com o objectivo de criar diversificação, abundância alimentar e vários microclimas na quinta
- utilização mais eficiente da água da chuva, através de pequenas bacias de retenção e utilização generalizada da rega gota-a-gota
- fertilização orgânica das culturas com recurso a microorganismos benéficos
- recurso das energias renováveis, nomeadamente energia solar
- trabalho contínuo de incremento da matéria orgânica nos solos favorecendo maior retenção de água
- implementação de técnicas de restauro dos ecossistemas resultantes dos conceitos de Permacultura e Agroecologia, nomeadamente o sistema de Keyline (com o apoio científico de projectos como Ecomontado XXI)