
De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, "as beatas de cigarro são um dos detritos mais abundantes em todo o mundo, estima-se que 4,5 triliões de beatas são depositadas indiscriminadamente no ambiente por ano". Em Portugal, amostras recolhidas em 9 praias, no âmbito do programa nacional de monitorização do lixo marinho, mostram que as beatas são habitualmente um dos 3 artigos mais encontrados, representando em média cerca de 20% da totalidade dos artigos recolhidos em cada 100 metros de praia.
O problema do descarte das beatas no chão tem várias faces:
- as substâncias químicas que as beatas contêm, parte devido à composição do filtro, parte devido aos produtos tóxicos presentes no tabaco e que deixam resíduos na beata após a sua utilização, entre os quais se contam pesticidas, herbicidas, inseticidas, fungicidas e rodenticidas;
- o alcatrão e o fumo resultante da queima do cigarro podem ainda ser responsáveis pela introdução no ambiente de cerca de 4000 substâncias químicas, nas quais se incluem, monóxido de carbono, cianeto de hidrogénio, óxidos de azoto, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs), amónia, acetaldeído, formaldeído, benzeno, fenol, árgon, piridinas e acetona (mais de meia centena são comprovadamente carcinogénicos para os humanos);
- substâncias químicas como arsénio, nicotina, PAHs e metais pesados são lixiviadas das beatas para o ambiente;
- as beatas são leves e móveis, sendo facilmente encaminhadas pelo vento e chuva até aos circuitos de águas pluviais, por exemplo através das sarjetas. Estas águas, transportando milhares de beatas, não são tratadas e acabam por encaminhar todo o lixo que transportam directamente para os rios, oceanos ou praias
- de acordo com a Bandeira Azul, a maior parte das beatas encontradas nas praias portuguesas não tem origem nos fumadores das praias, mas nas sarjetas das cidades, ou seja, são as beatas que diariamente são deitadas ao chão. De acordo com a Bandeira Azul, em Portugal, a cada minuto, sete mil beatas vão parar ao chão.
- as beatas descartadas representam uma ameaça significativa para a vida nos vários ecossistemas terrestres e aquáticos por várias razões: podem ser ingeridas pelos organismos, que as confundem com alimento, podem originar incêndios e, transformando-se por acção do tempo em microplásticos, acabam por integrar a cadeia alimentar.
No final do verão de 2019, em todo o país o tema das beatas foi amplamente discutido. A Assembleia da República aprovou aquela que ficou conhecida como “ a lei das beatas”, no âmbito da qual o descarte de beatas para o espaço público passou a ser penalizado. No início do ano, a Câmara Municipal de Évora promovia a campanha "A beata é sua, o chão é de todos" com distribuição de cinzeiros de bolso. Desde 2016, a Bandeira Azul promove também aações de “Caça à Beata” nas praias, entre outras iniciativas de encorajamento de comportamentos de protecção da Natureza.
A iniciativa da Câmara Municipal de Évora, ao lançar a campanha "A beata é sua, o chão é de todos", teve como objectivo sensibilizar os fumadores para a importância de manter as ruas e praças da cidade limpas da imagem negativa que as pontas de cigarros representam e, como consequência, conseguir canalizar para outras áreas o tempo dispendido pelos serviços de limpeza com este tipo de lixo.
Quem estiver interessado em ter um cinzeiro de bolso, poderá dirigir-se ao Posto de Turismo ou aos Paços do Concelho de Évora e solicitar o seu. No site da Bandeira Azul, existem várias iniciativas a que pessoas ou instituições se podem associar.
Estas acções são exemplos de boas práticas que vão sendo tomadas, a nível individual ou colectivo, informal ou institucional um pouco por todo o país e às quais qualquer pessoa, a qualquer momento, se pode associar.
Fontes utilizadas para este artigo: Agência Portuguesa do Ambiente, Bandeira Azul, Câmara Municipal de Évora.